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AS PROFUNDEZAS OCULTAS


Sinopse:

A Mina Santa Mariana sempre foi envolta em mistério. Abandonada há décadas após uma série de acidentes inexplicáveis, tornou-se um lugar de lendas e medo. O que antes era um próspero complexo de mineração agora jaz em ruínas, esquecido pelo tempo… ou pelo menos era o que todos acreditavam.

Quando um grupo de exploradores decide investigar os segredos enterrados sob a terra, eles logo percebem que algumas histórias antigas podem ser mais do que meras superstições. Conforme avançam pelos túneis escuros e opressores, estranhos acontecimentos começam a se desenrolar, testando os limites da razão e do medo. Sussurros no vazio, sombras que se movem sozinhas e uma presença invisível que os observa a cada passo… Algo aguarda por eles nas profundezas. Algo que jamais deveria ter sido perturbado.

À medida que a linha entre realidade e pesadelo se desfaz, a única certeza é que nem todos sairão de lá para contar a história.

 

 CAPITULO 1 - ECOS DO SUBTERRÂNEO

O CHAMADO DO ABISMO

A chuva castigava a terra, martelando as árvores e escorrendo em torrentes de lama pelas estradas de terra batida que levavam à Mina Santa Mariana. O céu carregado de nuvens cinzentas parecia um presságio para o que estava por vir.

No velho jipe que sacolejava pelos buracos do caminho, Alex Carter segurava firme o volante, mantendo os olhos fixos na estrada à frente. Ao seu lado, Emma Vasquez, arqueóloga e pesquisadora de fenômenos inexplicáveis, analisava um velho mapa da mina, traçando mentalmente as rotas que seguiriam assim que chegassem.

No banco de trás, Mike Reynolds, o cético do grupo, bufava impaciente.

— Eu ainda não acredito que estamos fazendo isso. Quantas histórias estranhas vocês precisam ouvir antes de entenderem que alguns lugares deveriam continuar esquecidos?

Sarah Collins, jornalista investigativa e documentarista, ajeitou a câmera em seu colo e deu um sorriso irônico.

— E quantas histórias precisam ser descobertas antes de entendermos que toda lenda tem um fundo de verdade?

No banco traseiro também estavam Gabriel Duarte, o guia local, e Jonas Ferraz, um geólogo que fora recrutado para a expedição. Nenhum dos dois parecia particularmente à vontade com a conversa.

— A questão não é acreditar ou não — disse Gabriel, encarando a estrada pela janela. — O problema é que os moradores daqui evitam esse lugar por um motivo. O que quer que esteja lá embaixo… não foi feito para ser encontrado.

O silêncio pesou no carro. Apenas o som da tempestade preenchia o ambiente.

Quando finalmente chegaram ao portão de ferro enferrujado que marcava a entrada da mina, o grupo saltou do veículo. A estrutura metálica, coberta de musgo e correntes quebradas, rangeu ao ser empurrada.

— Bem-vindos à Mina Santa Mariana — murmurou Alex, acendendo sua lanterna.

Mal sabiam eles que, ao cruzarem aquela entrada, estavam deixando para trás qualquer garantia de retorno.

 

O PRIMEIRO PASSO PARA O INFERNO

O silêncio voltou a dominar a mina Santa Mariana, mas agora carregava um peso diferente. O grupo de exploradores se entreolhava, tentando encontrar explicações racionais para o som perturbador que haviam ouvido.

— Deve ter sido um desmoronamento distante — sugeriu Ricardo Montenegro, ajustando os óculos, tentando esconder o desconforto em sua voz.

— Isso não soou como pedras caindo — retrucou Sarah, com a câmera ainda firme em suas mãos. — Soou… vivo.

Jonas Almeida, o guia local, acendeu um cigarro e bufou.

— Já ouvi de tudo nesse lugar… Mas nunca algo assim. Se eu fosse vocês, pensaria bem antes de continuar.

— Estamos aqui para isso, não estamos? — Alex cortou o assunto. Seu tom era firme, mas seus olhos denunciavam um leve receio.

Eles prosseguiram, atravessando túneis cada vez mais estreitos. O cheiro de umidade e ferrugem impregnava o ar, e a madeira apodrecida das vigas estalava sob o peso dos anos. Pequenos detritos caíam do teto, como se a própria mina estivesse advertindo-os a recuar.

— Alguém mais sentiu isso? — murmurou Emma, parando abruptamente.

O grupo se virou para ela.

— Sentiu o quê? — perguntou Mike.

— O chão… Vibrou.

Antes que alguém pudesse responder, um estrondo ecoou pelos corredores escuros. O chão sob seus pés tremeu violentamente, e um dos túneis laterais desabou em uma nuvem de poeira e detritos.

— CORRAM! — gritou Jonas.

O grupo se espalhou em meio ao caos, lanternas oscilando freneticamente enquanto pedras caíam ao redor. Alex puxou Sarah para longe de um bloco de pedra que quase a esmagou. Mike e Emma se jogaram para trás, evitando por pouco serem soterrados. Ricardo tropeçou e caiu de joelhos, tossindo com a poeira densa.

Quando o tremor cessou, um silêncio absoluto tomou conta. A única coisa audível era a respiração pesada de cada um.

— Todos estão bem? — perguntou Alex, varrendo o grupo com o olhar.

Um a um, eles assentiram. Mas então, Ricardo arregalou os olhos e apontou para algo atrás deles.

No chão, onde antes havia apenas terra e pedras, uma fenda agora se abria, revelando um buraco profundo. O brilho fraco das lanternas não era suficiente para enxergar seu fundo.

— O que diabos é isso? — sussurrou Emma.

Jonas se aproximou cautelosamente, jogando uma pedra na fenda. Eles esperaram o som da queda.

Mas ele nunca veio.

O grupo se entreolhou.

Algo estava esperando por eles nas profundezas.

E agora, não havia mais volta.

O Chamado da Escuridão

O grupo permaneceu em silêncio, encarando a fenda que se abriu na mina. O fato da pedra nunca ter atingido o fundo era perturbador. Alex pegou uma lanterna e apontou para dentro da abertura, tentando enxergar algo além da escuridão densa.

— Isso não estava no mapa — murmurou, franzindo a testa.

— Isso não deveria existir — corrigiu Ricardo, ajustando os óculos. Sua expressão cética começava a dar lugar ao nervosismo.

Sarah filmava tudo, focando na fenda. Seu instinto dizia que aquele era o ponto alto da expedição—e, ao mesmo tempo, um aviso para recuar.

— Devíamos dar meia-volta — sugeriu Jonas, cruzando os braços. — Isso aqui não é coisa boa.

— Concordo — disse Mike. — Não sou especialista em minas, mas buracos sem fundo não parecem algo natural.

Emma, que se mantinha em silêncio, abaixou-se e tocou levemente a borda da fenda. O solo ao redor parecia instável, quase pulsante, como se a mina estivesse… viva.

— Eu não sei explicar, mas tenho a sensação de que… algo nos observou quando chegamos aqui.

As palavras dela caíram sobre o grupo como um peso invisível. Por um instante, ninguém soube o que responder. Então, um novo som preencheu a mina.

Um sussurro.

Baixo. Profundo. Frio.

O ar ficou pesado, e um cheiro estranho tomou conta do ambiente, como ferro velho misturado com umidade. Ricardo recuou um passo, e sua mão trêmula encontrou a parede de pedra.

— Me digam que ouviram isso — sussurrou Sarah, a câmera focada na fenda.

O sussurro veio novamente. Palavras indistintas, quase como se fossem ditas debaixo d’água.

Jonas puxou Alex pelo braço.

— Estamos saindo daqui. Agora.

Mas antes que pudessem se mover, algo aconteceu.

Do fundo da fenda, algo brilhou.

Um brilho fraco, azul-esverdeado, como uma brasa enterrada no abismo.

E então, o eco de uma risada preencheu a mina.

Não era humana.

Sombras em Movimento

A risada ecoou pela mina, reverberando nas paredes úmidas e se dissolvendo em um silêncio sufocante. O grupo congelou. Cada um sentiu um arrepio percorrer a espinha ao perceber que aquilo que os observava não era algo natural.

Emma foi a primeira a reagir, puxando Alex pelo braço.

— Isso não é normal. A gente precisa sair daqui!

Mike, tentando manter a calma, virou-se para Sarah, que segurava a câmera com força.

— Por favor, me diz que você pegou isso na filmagem.

Sarah mal piscava, os olhos vidrados no visor da câmera. Lentamente, ela engoliu em seco e mostrou a gravação para os outros.

No meio da escuridão da fenda, o brilho azul-esverdeado piscava como um olho observando o grupo.

Mas o que fez o sangue de todos gelar foi algo além disso.

Na tela da câmera, sombras se moviam. Elas pareciam deslizar ao redor da fenda, se contorcendo de uma forma que desafiava qualquer lógica. Não eram sombras comuns. Não eram reflexos. Eram algo vivo.

Ricardo passou a mão no rosto, a respiração pesada.

— Isso… não pode ser real.

Jonas sacou sua lanterna e apontou diretamente para o buraco. O feixe de luz iluminou apenas a poeira suspensa no ar, mas a sensação de que algo estava ali continuava presente.

— Seja lá o que for, está nos vendo — murmurou ele.

O silêncio foi quebrado por um estrondo.

A terra tremeu sob seus pés, e pedras caíram do teto da mina. Alex segurou Emma enquanto Ricardo quase perdeu o equilíbrio.

— Merda, merda, merda! — gritou Mike.

A fenda parecia pulsar. O brilho azul-esverdeado aumentou por um breve instante antes de desaparecer completamente.

E então, tudo ficou quieto novamente.

Um silêncio pesado.

Profundo.

Opressor.

Até que…

Passos.

Vindos da escuridão.

Pesados. Arrastados. Lentamente se aproximando.

E dessa vez, não havia dúvidas.

Eles não estavam mais sozinhos na mina Santa Mariana.

Ecos da Profundezas

O som de passos ecoava pela mina, arrastando-se no silêncio sepulcral que havia se instaurado após o tremor. O grupo permaneceu imóvel, os olhos arregalados fitando o breu absoluto à frente.

— Isso é… alguém? — sussurrou Sarah, o tom hesitante denunciando que nem ela mesma acreditava na própria pergunta.

Jonas engoliu em seco e apertou o cabo da lanterna.

— Se for alguém, não deveria estar aqui.

O feixe de luz dançou pela escuridão, iluminando os trilhos enferrujados e as vigas de sustentação cobertas por teias de aranha. Mas além disso, nada. Nenhum sinal de quem – ou do que – estivesse fazendo aquele barulho.

Até que os passos pararam.

E, por um instante, tudo voltou a ficar muito, muito silencioso.

Silêncio demais.

Foi então que algo inesperado aconteceu.

— SOCORRO!

O grito rasgou a tranquilidade mórbida da mina. Um grito humano. Desesperado. Vindo de algum lugar mais ao fundo dos túneis.

O coração de Alex quase saltou do peito.

— Tem alguém lá!

Emma agarrou seu braço, os olhos cheios de receio.

— Você não pode estar falando sério. Pode ser… pode ser uma armadilha!

— Ou pode ser alguém de verdade precisando de ajuda! — rebateu Ricardo, já pegando a mochila e se preparando para seguir o som.

Mike balançou a cabeça, tenso.

— Não faz sentido! Quem diabos estaria aqui dentro a essa hora? A entrada da mina foi fechada há décadas!

Jonas puxou um pouco de ar e olhou para todos.

— O que quer que tenha acontecido aqui no passado… não ficou no passado.

Todos se entreolharam. O chamado continuava. Agora, os gritos eram mais distantes, como se estivessem se movendo, ecoando pelos túneis e se multiplicando nas paredes.

Alex respirou fundo.

— A gente precisa saber o que está acontecendo. Se for uma pegadinha, descobrimos e voltamos. Se for alguém em perigo…

Ele não precisou terminar a frase.

Um a um, hesitantes, os membros da equipe assentiram. Eles sabiam que ir atrás daquele grito poderia ser o pior erro de suas vidas. Mas algo os puxava. Uma força invisível, quase magnética, que os obrigava a avançar.

E assim, com lanternas tremeluzindo e os corações acelerados, o grupo deu seu primeiro passo rumo à escuridão desconhecida da mina Santa Mariana.

E aquele passo… selaria seus destinos.

 Vozes na Escuridão

O ar dentro da mina Santa Mariana estava cada vez mais denso, carregado com um cheiro metálico que ninguém conseguia identificar completamente. O grupo avançava com cautela, os passos ecoando de maneira estranha pelos túneis estreitos. O silêncio, antes apenas incômodo, agora se tornava sufocante.

— Estou dizendo, isso não é um eco normal — murmurou Gustavo, franzindo a testa. Ele parou por um instante, inclinando-se para perto da parede úmida. — Tem algo aqui... algo que parece estar tentando...

— Tentando o quê? — questionou Alex, impaciente.

Antes que Gustavo pudesse responder, uma voz sussurrada se espalhou pelo túnel. Não vinha de nenhum dos rádios. Não parecia um ruído natural da mina. Era baixa, quase imperceptível, mas todos ouviram.

Voltem...

Sarah arregalou os olhos e segurou o braço de Emma.

— Por favor, me diga que isso foi algum de vocês.

Mike olhou ao redor, tentando encontrar alguma explicação lógica.

— Pode ser um efeito acústico estranho. A gente está embaixo da terra, som pode viajar de formas inesperadas.

Ricardo, que até então permanecia quieto, segurou firmemente a lanterna e avançou um pouco mais.

— Eu não acredito em fantasmas, mas já ouvi muitas histórias de minas abandonadas. E, na maioria delas, quando alguém começa a ouvir vozes... significa que já estão sendo observados.

Um arrepio percorreu a espinha de Lara, mas ela respirou fundo e tentou manter a calma.

— Seja lá o que for, não podemos nos deixar levar pelo medo. Vamos seguir o plano.

Eles prosseguiram, mas o que não perceberam de imediato era que, a cada passo que davam, aquelas vozes ficavam mais próximas. Como se algo — ou alguém — estivesse sussurrando diretamente em seus ouvidos.

E, pela primeira vez, eles não estavam mais sozinhos na mina.


 

 


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