Inicialmente, o Nada observa em silêncio, registrando o surgimento de um pequeno planeta, a Terra, que desafia as leis do cosmos. Téia, um planeta invejoso, tenta destruí-la, mas falha. O impacto que quase destrui a jovem Terra acaba por dar origem à Lua, enquanto a vida começa a se formar, de maneira improvável, nas águas de um planeta ainda em transformação.
Mas, à medida que o tempo passa, a Terra se vê despertando e decide contar sua própria história. Ela se torna a narradora, trazendo à tona seus próprios sentimentos e percepções. Agora, ela descreve o surgimento dos humanos, o desenvolvimento das civilizações e o impacto de sua própria sobrevivência.
Em uma narrativa repleta de poesia, ciência e mistério, "Diário Terrestre" é um conto sobre o nascimento, a evolução e a luta pela sobrevivência de um planeta que, após observar tudo, finalmente decide tomar voz e compartilhar sua visão do universo.
1 - O Silêncio Antes da Criação
O Nada Observa
Eu sempre estive aqui. Sempre vi tudo. E, ao mesmo tempo, nunca fui visto. Eu sou aquilo que existe antes da existência, o vazio que antecede qualquer possibilidade. Não tenho forma, não tenho voz, mas sei de tudo, pois tudo aconteceu diante de mim. E agora, contarei a você o que vi.
Houve um tempo em que não havia tempo. Um momento antes do primeiro momento. Nenhum som, nenhuma luz, apenas um oceano de inexistência. Mas então, algo rompeu o silêncio. Algo que não deveria estar ali. Uma centelha, um lampejo de revolta contra mim, contra o Nada.
O universo explodiu.
O Grande Despertar
A explosão rasgou a inexistência com uma fúria incandescente. Uma onda de energia e caos se espalhou, moldando o vazio em algo novo. Por eras incontáveis, assisti ao nascimento das primeiras estrelas, imensos titãs de fogo que iluminavam a vastidão do cosmos. Galáxias se formaram como redemoinhos luminosos, dançando em perfeita desordem.
Mas entre tantas, uma me chamou a atenção.
A Via Láctea.
Ela não era a maior, nem a mais brilhante, mas possuía algo diferente. Algo que eu não compreendia. E dentro dela, um pequeno sistema solar começava a ganhar forma. Um astro flamejante reinava no centro, reunindo ao seu redor fragmentos de poeira e rocha que colidiam, fundiam-se, davam origem a algo maior. E, entre esses corpos celestes, havia um que lutava mais do que os outros.
A Terra.
O Conflito Cósmico
Ela não nasceu pronta. Era um caos de fogo e destruição, um campo de batalha onde a ordem tentava se estabelecer no meio da anarquia do universo jovem. Mas, como se já não bastasse o desafio de existir, havia outra presença no horizonte.
Téia.
Téia era grande, ambiciosa, e não aceitava a presença daquela nova promessa de mundo. Para ela, a Terra não passava de uma intrusa, um erro que precisava ser corrigido. E assim, num último ato de desafio, investiu contra a jovem esfera azulada, desencadeando um dos mais espetaculares confrontos do cosmos.
O choque foi brutal. O impacto espalhou pedaços de ambos os mundos pelo vazio. Téia foi despedaçada, consumida pela própria fúria. Mas a Terra, contra todas as probabilidades, sobreviveu. Ferida, instável, mas viva.
Os destroços resultantes do embate começaram a se unir, formando um novo companheiro celestial. A Lua nasceu, tornando-se uma sentinela silenciosa, orbitando a Terra, como um lembrete eterno daquele evento trágico.
E contra todas as expectativas, a Terra começou a se reconstruir.
A Dança da Vida
Os séculos passaram como poeira ao vento. A Terra esfriou, as águas se juntaram, a atmosfera se formou. E então, algo aconteceu. Algo que nem eu esperava.
A vida surgiu.
Primeiro, tímida, insignificante. Simples organismos que mal se diferenciavam do próprio oceano que os abrigava. Mas, pouco a pouco, eles começaram a crescer, a evoluir. O tempo, esse arquiteto impiedoso, moldou criaturas das mais diversas formas. Seres rastejavam, nadavam, caminhavam sobre a Terra.
Os dinossauros reinaram como colossos por eras incontáveis. O planeta nunca estivera tão vibrante, tão repleto de vida. Mas algo me chamou a atenção.
Outras criaturas surgiam. Pequenas, ágeis. Diferentes.
Não eram os mais fortes, nem os mais rápidos, mas possuíam algo único. Algo que me fez observá-los com um interesse que eu não costumava sentir.
Eles pensavam.
Eles aprendiam.
Eles eram humanos, mas ainda não eram os humanos que vocês conhecem.
Eu os vi moldando ferramentas com pedras brutas, descobrindo o fogo e o utilizando para se proteger do frio e das feras. Vi-os aprenderem a caçar em grupos, comunicando-se com sons rudimentares, partilhando seus conhecimentos entre gerações. Diferente de qualquer outra criatura que eu já testemunhara, eles não apenas existiam. Eles criavam, adaptavam-se, desafiavam a própria natureza.
Ainda frágeis, ainda à mercê das forças do mundo, mas carregando dentro de si um potencial que eu não conseguia ignorar.
O Dia do Impacto
Por milênios, tudo seguiu um equilíbrio peculiar. Mas o universo nunca permitiu que a estabilidade durasse para sempre.
Foi um dia como outro qualquer. Os répteis gigantes caminhavam, os humanos primitivos lutavam para se manter vivos, e o mundo girava sem pressa.
Então, uma luz surgiu no céu. Pequena. Distante. Insignificante.
Eu sabia o que era.
A luz cresceu. Tornou-se uma fagulha ardente no firmamento, um sinal do inevitável. Os primeiros a notarem foram os céus. Os pássaros fugiram em desespero. Os animais ergueram suas cabeças, sentindo o perigo. Os humanos olharam para cima, sem entender.
A luz se tornou um rasgo flamejante no céu.
E então, o impacto.
O choque foi um rugido ensurdecedor. O solo se partiu, o fogo engoliu florestas, os mares se ergueram em ondas colossais. O mundo se tornou poeira e cinzas. O que antes era vida, tornou-se destruição.
Eu vi tudo.
E pela primeira vez… eu não sabia o que aconteceria a seguir.
A Terra… sobreviveria?
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